As origens do nacionalismo político na Primeira República

Carlos Eduardo Rebello de Mendonça

O objetivo geral da pesquisa é estabelecer, a partir do estudo da tradição literária, de que forma e em que situação histórica o nacionalismo brasileiro passa de uma tradição cultural a uma tradição política. (...) Há algumas hipóteses acerca da conformação do nacionalismo político brasileiro. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que, na medida em que os Estados latino-americanos mantinham laços lingüísticos e culturais com suas respectivas metrópoles européias, tais elementos não poderiam singularizar em bases duradouras uma identidade nacional própria. Muito pelo contrário, a legitimidade de suas elites provinha do seu pertencimento a uma matriz comum de civilização ocidental compartilhada com as sociedades capitalistas cêntricas, o que as tornou, em diversos momentos da história, suspeitas diante da aceitação popular. Para estas elites, o descontentamento das massas com a sua tutela era, no dizer de um Euclides da Cunha, “um aspecto da própria rebeldia contra a ordem natural”. Exatamente por isso, o nacionalismo latino-americano teve, desde sua inflexão nos anos 1930, uma base ideológica econômica, “marxista” sans le savoir. Tratava-se de uma reação, paradoxalmente conservadora, a uma penetração econômica capitalista que, “ao revolucionar de modo permanente a economia dos países que lhe são submetidos”, provocou na América Latina uma oposição aos seus efeitos desorganizadores. Tal reação tomou corpo “nos governos fortes e na subordinação da sociedade ao poder executivo” de forma a dirigir um “processo regular e sistemático do desenvolvimento industrial nos países politicamente secundários”. (...)